25 junho 2014

A cidade de Niemeyer

A ideia de centralizar a capital desse grande país que é o Brasil surge ainda no século XVIII, em tempos coloniais e continuou a ser pensada após a independência. Mas apenas com a eleição de Juscelino Kubitschek em 1956 é que o Brasil iniciou a construção da cidade de Brasília localizada no centro geográfico do país. O urbanista Lúcio Costa e o famoso arquitecto Oscar Niemeyer foram os principais responsáveis pelo projecto. A inauguração da cidade veio a acontecer em 1960 e a maioria dos serviços do estado foram transferidos do Rio de Janeiro para a nova capital federal.

É impossível não ficar fascinado com a arquitectura desta cidade. Decidimos começar a visita pelo edifício do congresso. O Brasil é uma república federativa de estados e o poder legislativo está dividido em duas câmaras: a câmara dos deputados e o senado. Niemeyer projectou um edifício em onde ambas as câmaras coexistissem e incluiu duas imponentes salas que por fora do edifício são facilmente identificáveis. A câmara dos deputados tem a forma de "prato invertido" ou seja, a cobertura da sala é rectilínea. Já a sala do senado tem a cobertura curva. Ao centro, os dois principais anexos de apoio aos dois órgãos legislativos e que são as duas torres de quase 30 andares. Estes são os edifícios mais altos de Brasília e pela lei actual assim perdurarão para o futuro como os edifícios mais altos da capital. Para visitar o interior do congresso nacional é necessário marcar a visita. Por falha da nossa parte desconhecíamos este facto (está tudo na net!!) e à chegada fomos informados que só poderíamos visitar o salão verde e o salão negro. Estes espaços que receberam o nome em função da cor do pavimento, funcionam como antecâmara do senado e da câmara dos deputados. Conformados, visitámos o espaço tirámos umas fotografias e bebemos um café, oferecido pelo congresso na cafetaria. Ao visitar o salão negro um guia dirigiu-se a nós e perguntou se éramos os Portugueses da visita das 11:00. Dissemos que não tínhamos marcação, ao que ao bom jeito Brasileiro o guia respondeu: "Sem problema! Podem ir do mesmo jeito.". E assim, com muita sorte (!) integrámos um grupo de visita ao coração do poder legislativo brasileiro. E realmente podemos dizer que vale a pena. Ambas as câmaras são imponentes. A dos deputados toda a decorada em verde tem espaço para mais de 500 deputados estaduais. A do senado toda em azul, tem um impressionante tecto composto por 130.000 placas de alumínio. Esta câmara com assento para todos os senadores tem a particularidade de hoje em dia ter desenhado na alcatifa com um aspirador (!) a bandeira do Brasil ao centro, a catedral e o congresso à esquerda e à direita respectivamente. Estes desenhos são feitos/retocados por um funcionário da limpeza do congresso nacional que, há uns anos atrás desenhou pela primeira vez a bandeira nacional à revelia do senado. Os senadores gostaram e virou tradição :)

Congresso Nacional

Câmara dos Deputados

 Senado

Desenhos feitos com aspirador(!) na alcatifa do Senado

Após a visita, tempo para conhecer a praça dos três poderes. Esta ampla praça com o chão em calçada portuguesa, tem esta designação pelo facto de albergar os três poderes de um estado de direito. O poder legislativo (congresso), o poder executivo (Palácio do Planalto) local de trabalho do presidente da república (hoje em dia presidenta Dilma como se diz por aqui) e o supremo tribunal de justiça. Nesta praça estão também o Museu da Cidade, um inusitado museu em forma de paralelepípedo, o Panteão Nacional, um gigantesco mastro com a bandeira nacional e a estátua dos Candangos, homenagem aos trabalhadores que vieram de todas as partes do Brasil para a construção da cidade.

Praça dos Três Poderes

De seguida o roteiro que traçamos incluía o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente do Brasil. Para esta visita estudámos a lição. Só se pode visitar às 4as feiras e mediante uma das 300 senhas que são distribuídas 1 a 2 horas antes e por ordem de chegada. Mesmo com todo o planeamento, imprevistos acontecem. Chegámos ao palácio que fica longe do centro junto ao lago Paranoá e estava a decorrer uma manifestação, já em fim de protesto, de trabalhadores da função pública. Conclusão: um segurança disse-nos que devido à manifestação não iria haver visita!

Balde de água fria. Planeámos tudo menos isto! Decidimos esperar junto de meia-dúzia de pessoas que duas horas e meia antes já aguardavam as senhas. E como a sorte protege os audazes, as relações públicas do palácio decidiram que haveria visita e portanto a espera compensou! E mais uma vez valeu a pena. É difícil descrever com palavras a beleza dos traços arquitectónicos que Niemeyer destinou ao palácio presidencial. Na frente um lindíssimo espelho de água que ornamenta a espectacular fachada. O interior da casa com um imenso pé direito é muito amplo e funcional. No subsolo, a área logística e no piso térreo a parte social. Numa mezzanine que funciona como terceiro piso, estão as áreas privadas, quartos e gabinetes e que claro, não podemos visitar. Mesmo assim, a visita permite ver mais do que esperávamos. Ao lado esquerdo da casa, uma pequena capela, que não tem qualquer tipo de iluminação artificial, já que foi inteligentemente projectada para tirar partido da luz natural. Nas traseiras da casa, uma enorme piscina, campo de futebol , lindíssimos jardins e um pequeno lago onde se diz, Lula da Silva gostava de pescar.

Fachada do Palácio da Alvorada

Entrada do Palácio

Uma das salas do Palácio da Alvorada

Piscina e jardins do Palácio da Alvorada

Após esta "cusquice" presidencial seguimos para o Jaburu, residência do vice-presidente e que anteriormente não estava aberta para visitas. Bastante mais pequeno, não deixa no entanto de ser mais uma obra de arte. Igualmente, dispõe de uma pequena capela exterior e nas traseiras o melhor da casa - um enorme terraço com uma vista deslumbrante sobre um pequeno lago.

Jaburu

Terraço e piscina do Jaburu


Depois de mergulhar no universo que Oscar Niemeyer criou para Juscelino Kubitschek e seus sucessores, rumámos à torre de TV que se encontra no cimo do Eixo Monumental. Subindo ao observatório ou mesmo à mezzanine mais abaixo e sem fila de espera para subir, podemos ter uma das melhores vistas 360 graus da cidade. De lá podemos ter uma visão mais tridimensional da cidade e ver de frente o estádio nacional, do qual falaremos mais adiante.

Torre de TV de Brasília


Terminámos este dia em Brasília com um jantar num dos restaurante da Vila Planalto. Este bairro foi erguido pelos trabalhadores que vieram construir a cidade na década de 50 e que contrasta com o ordenamento das zonas mais nobres da cidade. Percebemos também porque nos haviam recomendado almoçar por lá. É mais seguro de dia e muitos (senão a maioria) dos restaurantes só abrem à hora de almoço. Mas come-se bem e em quantidade por lá :-)

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